As Barcaças


Diante das grandes incertezas e tensões geopolíticas envolvendo estados soberanos, a China parece estar tomando mais um passo decisivo em sua estratégia global. Para entendermos melhor esse contexto, precisamos olhar para o passado e compreender como chegamos a esse ponto.

Um Breve Retorno Histórico

Taiwan foi controlada pela China até 1895, quando foi entregue
ao Japão após a derrota chinesa na Primeira Guerra Sino-Japonesa. O controle chinês só foi restabelecido ao final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, com a derrota japonesa.

No entanto, a estabilidade foi passageira. Com o fim da guerra, a China mergulhou em uma guerra civil entre duas forças: os nacionalistas de Chiang Kai-Shek e o Partido Comunista liderado por Mao Tse-Tung. A guerra resultou na vitória comunista, e Chiang Kai-Shek e seus seguidores foram obrigados a fugir para Taiwan, onde estabeleceram um governo paralelo, alimentando uma disputa que persiste até hoje.

Nos anos seguintes, Taiwan se tornou uma das economias de crescimento mais rápido do mundo, integrando o grupo dos "Tigres Asiáticos" e se consolidando como a maior produtora de semicondutores de alta tecnologia.

Por volta de 1949, Taiwan se autodenominou a "verdadeira" China, proclamando-se a República da China, o que irritou ainda mais Pequim. Essa questão geopolítica se intensificou na década de 1970, quando a ONU passou a reconhecer a China Continental como a representante oficial do país, deixando Taiwan sem assento na organização e com relações diplomáticas limitadas.

Embora os EUA não reconheçam oficialmente Taiwan como um país independente, eles são obrigados por lei a fornecer meios para sua defesa. Isso cria um cenário sensível, onde Pequim considera a ilha uma província rebelde e não descarta a possibilidade de uma reunificação forçada.

A Estratégia Militar Chinesa

A China tem ambições claras de se tornar a maior potência global, seja no campo econômico, político ou militar. O aspecto econômico tem sido sua "parte fácil", mas os desafios políticos e militares ainda precisam ser resolvidos.

Para consolidar sua influência, a China vem investindo pesadamente em tecnologia militar. Entre suas iniciativas, destacam-se o desenvolvimento de caças de sexta geração e uma ampla expansão naval. Em 2018, Pequim anunciou um ambicioso plano de construir 100 navios de guerra em 10 anos. Apesar de alguns atrasos causados pela pandemia, o avanço permanece impressionante.

Talvez não seja exagero afirmar que a China tem hoje a maior marinha do mundo, ao menos em termos numéricos. Embora os Estados Unidos possuam uma frota poderosa, ela está dispersa ao redor do globo, enquanto a marinha chinesa se concentra principalmente na região do Indo-Pacífico. Isso significa que, em um cenário de conflito, Pequim poderia mobilizar suas forças navais com muito mais rapidez e eficiência.

Recentemente, a China revelou seus novos navios de desembarque anfíbio, projetados para facilitar o transporte de tropas e equipamentos. Esses navios modulares têm a capacidade de criar uma espécie de "píer flutuante", permitindo um desembarque mais rápido e seguro em meio ao fogo inimigo.

O Que Isso Significa para o Futuro?

A China precisa resolver a questão de Taiwan para consolidar sua posição política e militar. Entretanto, qualquer tentativa de invasão poderia resultar em uma escalada militar com os Estados Unidos, gerando uma crise de proporções globais.

O impacto econômico também seria significativo. Taiwan é responsável por grande parte da produção mundial de semicondutores, essenciais para tudo, desde smartphones até equipamentos militares. Qualquer interrupção na cadeia de suprimentos poderia desencadear um colapso similar à crise econômica causada pela pandemia.

Diante desse cenário, a grande questão é: até onde Pequim está disposta a ir para garantir sua supremacia? E como o mundo reagiria a um conflito de tal magnitude? O tempo dirá, mas uma coisa é certa: as movimentações da China nos próximos anos serão decisivas para a nova ordem global.




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