"Fundação": Entre as páginas de Asimov e as telas da Apple TV
Ah, "Fundação"... onde começar? Quando peguei o primeiro livro de Isaac Asimov, anos atrás, mal sabia o que me esperava. Dentro da vastidão daquele universo, a queda do Império Galáctico, a psico-história de Hari Seldon — tudo parecia tão grandioso, tão POSSIVEL. E agora, vendo a adaptação da Apple TV, não consigo evitar uma mistura de admiração e... bem, certas frustrações.
Primeiro, vamos a série de televisão. Visualmente? Impecável,
Perfeita.
A Apple acertou em cheio na estética futurista, nos
planetas, nas naves, naquela AURA de decadência imperial que paira sobre o
planeta capital do império, Trantor.
Sobre a escolha do elenco?
Lee Pace como o Imperador Cleon (ou melhor, os Cleons) é
simplesmente hipnotizante. A ideia dos clones dinásticos nem existia nos livros
originais, mas realmente *funciona* — dá carne e osso (e um drama delicioso) a
um conceito que, no papel, era mais estático.
Mas é claro, como fã dos livros, tenho minhas ressalvas. A
psico-história, aquela ciência matemática que prevê o futuro em larga escala,
parece um pouco... diluída, fraca na série. No livro, era tudo sobre
estatísticas, sobre o inevitável colapso de sistemas. Na TV, virou mais uma
trama de conspirações e indivíduos excepcionais (exemplo Gaal Dornick e Salvor
Hardin). Asimov escrevia sobre *COLETIVOS*, sobre a força das massas contra o
destino; a série, como quase toda adaptação moderna, coloca o peso nos ombros
de heróis solitários.
Não irei negar: algumas mudanças me irritaram profundamente.
A trama dos geneticistas de Demerzel (ou devo dizer, *aquela
revelação* sobre ela) é interessante, mas sinto que perde um pouco da essência
robótica e impessoal do original. Asimov criou robôs que seguiam as Três Leis à
risca; aqui, a linha entre humano e máquina parece mais turva. Será um mal
necessário para agradar ao público atual? Me pergunto o quanto essa cultura de “agradar”
realmente funciona, mas fica para outra hora e outro artigo sobre essa reflexão.
Mas sabe o que mais me pegou?
A maneira como a série *TENTA* capturar a passagem do tempo.
Nos livros, séculos voam em poucas páginas, dinastias inteiras surgem e caem
como notas de rodapé. Na TV, isso é um desafio a ser criado — como fazer o
espectador se importar com personagens que mudam a cada temporada (ou
episódio)? Ainda não sei se a Apple conseguiu equilibrar isso direito... Aguardar a terceira temporada...
No fim, fico dividido. Adoro ver Trantor ganhar vida, adoro
as nuances que a série adiciona (a complexidade dos Cleons é genial). Mas parte
de mim ainda sente falta daquela sensação dos livros: de que estávamos lendo
não uma história, mas *o esqueleto da História itself*, com H
maiúsculo.
E você? Já viu ou leu? O que achou da adaptação? Consegue
separar série e livros na cabeça, ou também fica comparando cada cena com as
páginas que marcou a vida inteira?
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(Observação.: Ainda estou esperando um *verdadeiro* momento
"Mulo" na série. Aquele personagem merece mais amor — ou terror — do
que estão dando a ele até agora.)
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