Conversa Solta – Capítulo 1: Sobre a Brevidade da Vida (e a Ilusão da Imortalidade)


 A Ilusão da Imortalidade

"A morte é apenas mais um caminho, que todos temos que tomar" -- Gandalf

Hoje queria só conversar. Trocar uma ideia solta sobre a vida. Ou melhor, sobre como a vida consegue ser tão breve — e, ao mesmo tempo, a ideia da imortalidade ainda parece ter espaço no mundo. 

Mas será que a imortalidade seria mesmo um presente? Ou seria, talvez, um fardo mal embrulhado?

Se olharmos para as histórias — aquelas que amamos — percebemos que essa dualidade já estava ali. Em Tolkien, por exemplo, os homens foram chamados de "os segundos filhos", enquanto os elfos eram os "primeiros filhos". Aos homens foi dada a graça da morte. Aos elfos, a dádiva da imortalidade. E ainda assim, cada um invejava a sina do outro.

Os homens ansiavam por viver para sempre, por alcançar o destino dos elfos. Acreditavam que ao habitar a Terra de Aman, talvez pudessem se livrar da morte. Mas os elfos... esses viam sua eternidade na Terra-média com olhos pesados. Porque o problema da imortalidade não é o tempo que se tem, mas o que se perde nele.

Ser imortal em um mundo que morre — um mundo que muda, que desfaz, que apaga — é um tipo muito específico de tristeza. Os elfos viam amigos, florestas, reinos inteiros desaparecerem. Testemunhavam o declínio do mundo, sem poder partir com ele. A dor da perda se acumulava como camadas de poeira na alma.

E aí eu penso: será que ser imortal seria mesmo viver melhor?

Porque vamos falar da realidade. A perda é inevitável. Vamos perder nossos amigos, irmãos, pais. Isso é certo. E, por mais duro que seja, talvez isso não seja, em si, o que há de mais triste. Triste, mesmo, seria vê-los definhar lentamente — presos à vida sem alegria, sem energia, sem dignidade.

Falo isso por experiência própria. Perdi meu avô, vítima de um câncer. Foi um baque. Doeu. Muito. E agora, quase cinco anos depois, vejo minha avó passando pela mesma batalha. Só que agora, além da doença, ela está sozinha. E isso dói mais do que a perda em si. Dói ver o sofrimento. Dói ver o fim se arrastando.

Por isso, talvez, a imortalidade não seja solução para nada. Não cura a dor. Só a estende.

Claro, eu queria que minha avó ficasse mais tempo comigo. Queria ouvir mais histórias, sentir o carinho dela coçando minha cabeça — como sempre fez. Mas vê-la sofrer, silenciosamente, me faz desejar algo diferente: paz. Descanso. Liberdade.

A verdade é que tudo tem começo, meio e fim. Nada é eterno. Nem as histórias que a gente conta. Em algum momento, até as grandes lendas são esquecidas. E tudo bem. Porque o que realmente importa não é a duração da vida, mas o que fazemos com o tempo que nos é dado.

Essa é a grande reflexão. O que você está fazendo com o tempo que te foi concedido?

A gente fala muito de destino. Alguns dizem que ele já está traçado, que tudo tem um propósito escondido. Eu não sei se acredito nisso. Porque, se tudo já estivesse determinado, qual seria o sentido das escolhas, dos acasos, das viradas? Acho que parte do mistério da vida está justamente nisso: em não saber quanto tempo temos, nem o que nos espera, mas viver — ainda assim — com propósito.

E talvez, só talvez, aceitar a brevidade da vida seja a chave para vivê-la de verdade.

"Ainda há esperança, enquanto o sol brilhar e a brisa soprar." -- J.R.R Tolkien

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