Rei de um mundo sem Rei



Coroa feita de vento e poesia,
teu trono é a noite, a rua, o dia.
Ninguém te serve, ninguém te elegeu,
mas reinas soberano no que és teu.

Os teus domínios não têm mapa ou lei,
és dono do caos, do verso, do desejo.
Pisas em sombras, desbravas o abismo,
e teu cetro é um riso, um punho, um cismo.

Não há súditos, não há fronteiras,
só o fogo que trazes nas fogueiras
de quem nunca se ajoelhou.
Rei sem reino, mas dono do assombro
que fazem os loucos quando lembram
que um mundo sem rei também é um mundo
— e te chamam.


Lá estava ele, sentado num trono imaginário, cercado de aliados duvidosos, decisões inconclusas e cúpulas que mais pareciam encontros de terapia em grupo. O Rei? Ninguém sabe ao certo. O mundo, esse velho tabuleiro com peças que se movem sozinhas, vive à procura de uma liderança — mas não qualquer uma, tem que ser aquela que prometa paz, distribua petróleo e, se possível, não comece a próxima guerra por um meme mal interpretado.


No cenário global, os Estados Unidos ainda fingem que mandam em tudo, embora sejam desmentidos pelo preço da gasolina, pelos votos no TikTok e por um sistema político que funciona com a mesma eficiência de uma impressora de repartição pública. A China quer ser rei, mas de uma monarquia onde ninguém pode dizer que o rei está pelado — sob risco de sumir misteriosamente. A Rússia? Essa resolveu jogar Age of Empires na vida real, só esqueceu que o servidor mudou pra 2024 e agora tem sanções no lugar de catapultas.


E o Brasil, claro, sempre chega atrasado à reunião, mas com a ousadia de quem acha que pode sentar à mesa de cabeça erguida. Nossa diplomacia é tipo aquele tio no churrasco: cheio de opinião, mas sem trazer o carvão. Entre um alinhamento ideológico e outro, a gente segue neutro, desde que não nos peça para assumir qualquer responsabilidade concreta. Afinal, ninguém quer ser o rei de um reino onde a inflação é a verdadeira monarca.


Enquanto isso, o mundo se multipolariza — palavra bonita pra dizer que agora todo mundo quer mandar, mas ninguém quer pagar a conta. A ONU finge que tem voz, mas a essa altura já é basicamente o grupão do WhatsApp dos países, onde só o Egito ainda manda bom dia com girassol.

No fim das contas, vivemos uma era sem coroas legítimas. Apenas aspirantes, influencers geopolíticos e chefes de Estado que governam pelo X (ex-Twitter), onde 280 caracteres valem mais que tratados internacionais.

A pergunta que fica é: quem comanda esse baile? E mais importante: quem vai varrer a bagunça quando as luzes acenderem?


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