Conversa Solta - Capitulo 2: Na eminência da morte.


Pode parecer um pensamento mórbido e sem sentido, porém, vejo com outros olhos. Até porque, quem nunca pensou em seus momentos finais? Ou será que sou o único maluco na Terra que já se pegou imaginando como seria o fim? Talvez durante uma insônia silenciosa, num banho mais demorado ou naquela crise existencialzinha básica depois de um tropeço na vida.

O que se passa — ou pode passar — na nossa mente nesses instantes finais? O que sentimos quando a morte não é mais uma ideia distante, mas uma presença próxima, respirando no cangote da nossa existência?

O que posso deduzir com minha pouca experiência — e muita curiosidade — é que talvez sejam os arrependimentos que aparecem primeiro. As palavras não ditas. As decisões adiadas. Os amores não vividos. Talvez também surjam memórias boas, flashes de momentos reais, intensos, genuínos. Lembranças de pessoas que tocaram a nossa vida, mesmo que por instantes breves.

Talvez pensemos nos que ficam: família, amigos, os que dependem de nós. Ou talvez nem tenhamos esse luxo de racionalizar, e tudo venha num redemoinho caótico, uma enxurrada de passado, presente e medo do nada.

Eu, sinceramente, não sei o que pensaria. Só sei que a eminência da morte é uma sombra constante, mesmo quando fingimos que ela não está ali. Vivemos como se fossemos eternos, mas somos frágeis — carne, osso e uma pitada de teimosia. Qualquer passo em falso, qualquer célula rebelde, qualquer distração no trânsito… e pronto.

Somos apostadores compulsivos da vida. Jogamos dados invisíveis todos os dias nesse grande cassino que é o universo. Acordar, respirar, sair de casa — tudo isso é uma roleta girando.

Como disse Epicuro, “a morte não deve ser temida, pois quando estamos vivos, ela não está presente; e quando ela está presente, nós não estamos mais aqui”. Uma visão quase reconfortante, se você parar pra pensar. Ele ainda dizia que o verdadeiro sábio é aquele que aprendeu a rir da morte, como se dissesse: "Você não me alcança enquanto estou aqui."

Heidegger, por outro lado, leva a discussão mais a sério (pra variar). Para ele, só quando nos tornamos conscientes da nossa própria finitude é que passamos a viver de forma autêntica. A morte, nesse caso, não é o fim — é o lembrete. A sirene que toca dizendo: “Ei, o tempo tá passando!”

Devemos abraçar a morte, então? Talvez sim. Não como quem desiste, mas como quem entende. Como quem aceita o contrato da vida: ela tem começo, meio e fim. E justamente por isso é rara. É valiosa.

No fim, refletir sobre a morte não é um exercício de morbidez. É um convite à lucidez. É trazer à tona o que realmente importa, é parar de adiar, é dizer “eu te amo” sem medo, é errar tentando — porque o tempo é curto demais pra viver de ensaio.

“Meditar sobre a morte é meditar sobre a liberdade. Quem aprendeu a morrer, desaprendeu a servir.” — Montaigne

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